Saúde mental: cientistas avaliam os efeitos traumáticos da pandemia
Análises sobre incidência de casos de TSPT levanta questionamentos sobre o entendimento da pandemia como evento traumático único.
A ocorrência de sintomas de estresse pós-traumático relacionados a pandemia de COVID-19 atinge em média 25,8% da população. É o que aponta um estudo realizado por pesquisadores do Women’s Health Research, em Yale (EUA), em parceria com cientistas da Universidade de Bordeaux, na França, e do Centro Nacional de TSPT, do Departamento de Assuntos Veteranos dos Estados Unidos.
O levantamento foi publicado na revista Chronic Stress e analisou 36 estudos que avaliam os sintomas de TSPT (transtorno de estresse pós-traumático) na população em geral. Nesta amostra, foi identificado que a ocorrência de sintomas moderados a grave variou de 5% a 55% entre os pesquisados – um intervalo que chamou atenção por sua amplitude.
Para os pesquisadores, além do aumento do sofrimento psicológico em uma escala incomumente ampla, os resultados apontam para a necessidade de se aprofundar os estudos e entendimentos sobre TSPT e sua relação com a pandemia, que após dois anos pode perder o status de um evento traumático único.
“Como médicos, quando perguntamos sobre os sintomas de TSPT, é sempre em referência a um evento traumático específico, com um nível significativo de choque”, explica a Dra. Mathilde Husky, professora de psicologia clínica da Universidade de Bordeaux e principal autora do artigo. “No contexto de uma pandemia que está se aproximando de dois anos, se eu perguntar a alguém se eles estão passando por flashbacks, a pergunta se torna: flashbacks de quê? Eles estão evitando pistas em seu ambiente ou situações que os exporiam a coisas que iriam lembrá-los do evento? Algumas pessoas relatam um evento traumático singular no contexto da pandemia, mas muitos não.”.
Em comunicado à imprensa, os pesquisadores explicam que a American Psychiatric Association define TSPT como um transtorno em que alguém experimenta “pensamentos e sentimentos intensos e perturbadores” por longos períodos após um evento traumático. Tal diagnóstico requer, em parte, que o evento envolva “morte real ou ameaça de morte, lesão grave ou violência sexual”. Eventos nos quais o paciente estaria envolvido diretamente ou como testemunha.
Hoje, Husky e os co-autores do estudo questionam se a pandemia, como uma experiência global perturbadora, pode ser interpretada como uma exposição direta a um evento traumático único, quando pode afetar as pessoas de tantas maneiras diferentes durante um longo período de tempo, dependendo de seus empregos, exposição à doença, estressores preexistentes e psicopatologia, entre muitos outros fatores.
Os autores, incluindo os drs. Robert Pietrzak, de Yale e do Centro Nacional de TSPT e Brian Marx, do Centro Nacional de TSPT, sugerem que a, a partir dos dados levantados, próxima etapa da pesquisa deva ser garantir que os critérios do que definem o transtorno de estresse pós traumático sejam atendidos ao avaliar a sua incidência e considerar uma forma alternativa de classificação para o estresse percebido, que é relacionado a uma experiência adversa longa e contínua. Além disso, os autores sugerem que os pesquisadores devem reunir dados sobre transtornos mentais preexistentes e exposição anterior a eventos traumáticos para determinar melhor a origem dos sintomas mais recentes.
“Devemos também continuar a nos concentrar em como os estressores preexistentes e concorrentes podem afetar desproporcionalmente mais as mulheres do que os homens”, disse a Dra. Carolyn M. Mazure, autora sênior do artigo e diretora do Women’s Health Research (da universidade de Yale). “Há um crescente corpo de evidências mostrando que bloqueios, fechamentos de escolas e trabalho de casa para reduzir a disseminação de COVID-19, por exemplo, tiveram um efeito maior nas mulheres, completa.
fonte: O galileu