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Ricardo Boechat: carreira e trajetória de um dos maiores jornalistas do país

Aos 66 anos, Boechat  teve seu jornalismo peculiar em destaque na mídia, pelo seu jeito inovador de fazer o comum diferente, imprimiu seu humor ácido em suas abordagens, fazendo dele um dos jornalistas mais respeitados do país

Ricardo Boechat, em foto de março de 2006 — Foto: José Patrício/Estadão Conteúdo/Arquivo

Ricardo Boechat passou a vida inteira em Niterói. Seu pai, Dalton Boechat, era diplomata e foi assessor da Petrobras. Em 1964, foi cassado pelos militares. Com 17 anos, Ricardo Boechat trabalhava em assessoria de imprensa e tentava um emprego regular em jornais. Por meio da indicação do jornalista Nilo Dante, editor do Diário de Notícias, Boechat auxiliou na coluna de Ibrahim Sued, cargo que ocupou de 1970 a 1983.

Em 1983, assumiu pela primeira vez a tradicional Coluna do Swann, onde permaneceu, com algumas breves interrupções, até 1997. Neste ano, Alessandro Porro passou a ser responsável pela coluna, enquanto Ricardo Boechat ganhou uma outra coluna, com seu próprio nome.

Entre 1986 e 1988, Ricardo Boechat escreveu para O Estado de S. Paulo e, durante alguns meses em 1987, foi Secretário Extraordinário de Comunicação Social do governo Moreira Franco, no Rio de Janeiro. Entre 1976 e 1979, havia sido assessor de imprensa de Moreira Franco na prefeitura de Niterói e coordenador da campanha dele para o governo do estado em 1982, quando o candidato foi derrotado por Leonel Brizola.

Além do jornalismo diário, Ricardo Boechat também atuou como professor universitário desde 1994 e como colunista no Bom dia Brasil, na Rede Globo em 1996. Três anos depois, Boechat lançou o livro Copacabana Palace – Um hotel e sua história, recuperando a memória do famoso hotel carioca onde ele havia trabalhado aos 17 anos, como assessor de imprensa.

Como jornalista, Ricardo Boechat representava um dos extremos do colunismo social, que se dividia entre a investigação e o glamour. Avesso à badalação, dedicou-se a buscar “furos” de reportagem, traduzidos em notas frequentemente bem humoradas em sua coluna. Uma das estratégias que adotava para conseguir tais furos era fugir dos temas presentes em todos os jornais, optando por buscar fontes e assuntos inusitados.

Assim como evitava os assuntos excessivamente em evidência, Ricardo Boechat tinha como regra evitar assessores governamentais, políticos consagrados e ministros de Estado, que forneciam informações previsíveis. Deste modo, o papel do “novo” colunista social seria divulgar para os leitores um flagrante, atravessado por uma crítica subliminar que permitia que o leitor tirasse suas próprias conclusões.

Ricardo Boechat negava que a mudança sofrida pelas colunas sociais fosse um mérito exclusivamente seu.  Segundo ele, foram as colunas sociais as primeiras a sintetizar os interesses do Itamaraty, fazendo um acompanhamento regular da diplomacia. Esta teria sido uma via para se chegar às notícias políticas. O jornalista identificava, já na época de Álvaro Américo, primeiro criador da Coluna do Swann, a presença de outros assuntos que não os exclusivamente voltados para a badalação social. Com Ibrahim Sued, na década de 1950, o espaço para tais assuntos teria se ampliado.

“Uma coisa decisiva para a minha formação como repórter
foi a coluna do Ibrahim Sued” ( Ricardo Boechat)

Foto: Divulgação

Os esforços jornalísticos de Ricardo Boechat foram recompensados com três prêmios Esso. O primeiro deles pela reportagem feita para O Estado de S. Paulo sobre a subsidiária da Petrobras que fazia aplicações em programas de baixa rentabilidade. O segundo por uma reportagem para O Globo sobre a concorrência fraudulenta aberta pelo Exército para a compra de uniformes. O terceiro, também pelo Globo, teve como título “Sinal verde para o contrabando”, em 2001. 

Miriam Leitão, em entrevista ao vivo a Globo News logo depois da notícia, da morte do jornalista no dia de hoje, logo no início da tarde hoje, 11 de fevereiro de 2019, aos 66 anos, em um acidente de helicóptero, em São Paulo, fez um extenso depoimento sobre colega. Segundo Miriam, era querido entre a classe,  por gostar de ajudar os mais novos, e, de forma prestativa repassar reconhecimentos e abrir portas no mercado competitivo do jornalismo, como fez com ela mesmo, em período em que ficou desempregada, e posteriormente passou a integrar a equipe do jornal o Globo, por um pedido dele aos seus superiores, onde os dois trabalharam por muito tempo juntos.

Fonte: Memória Globo

Redação