A resistência negra no cenário catuense evidenciada pelo Zin de Zumba Renan Nunes
Negros são a maioria da população do país, mas ainda assim a força do preconceito e as barreiras sociais a serem vencidas são extensas, porém a superação é possível quando há resistência e perseverança em busca da concretização do sonho
No último censo do IBGE, 51% da população se autodeclarou preta ou parda. Desse total, 51,8 % são homens e 49,7 % são mulheres. O Nordeste é a região que lidera o ranking com maior população afrodescendente, 69%. Entretanto, apesar desses números, o preconceito racial faz parte da vida de milhões de brasileiros. Por mais que grande parte da população seja composta por afrodescendentes, essa é a realidade de inúmeros brasileiros
Quem é vítima de preconceito, pode levar o trauma para o resto da vida, mas, por outro lado, há aqueles que fazem disso um trampolim para sua vida.
Renan Souza Nunes, é um exemplo de alguém que passou por cima do preconceito e não se intimidou com os olhares discriminatórios. O Zin de Zumba é muito conhecido pelos catuenses e costuma levar alegria e alto astral por onde passa. É natural do bairro Barão de Camaçari (Ramela) e tem muito orgulho de sua cor e de suas origens. O zin de zumba e professor de dança afro e de ritmos baianos, encontrou em sua profissão uma motivação pessoal. “Foi através da dança que me apaixonei pela educação física. Hoje minha profissão é sinônimo de satisfação”, conta Renan.
Com 23 anos e nascido em 19 de agosto, a história do professor com o preconceito racial começou ainda quando adolescente. “Tudo começou na escola. Situações me deixavam muito triste, mas, com o passar do tempo, fui aprendendo a superar. Dei a volta no preconceito e procuro mostrar de todas as formas que tenho orgulho da minha cor”, afirma.
O futuro professor de Educação Física, dar aulas de zumba no Studio Saúde em Movimento, Academia Max Fitness, e no ACEC, como parte de um trabalho da secretaria Municipal de Educação e Cultura, a um grupo de Dança às segundas e quartas, e é reconhecido pelo grupo, que é composto por mulheres.
Dona Eulina Santana (64), é uma das alunas da turma de zumba, “pra mim essa dança aqui é tudo. Saúde, energia, me sinto transformada. Antes de estar aqui eu só andava doente, agora não, tudo mudou, até o humor é outro.” Já Mirian Ferreira (35), já uma veterana nas aulas, destaca a importância da dança para saúde e também a estética, porque ajuda a queimar calorias, mantendo a boa forma. “Tenho seis meses com Renan aqui e já perdi 6Kg. Sem falar no alto astral que ele transmite nas suas aulas.”
Filho de Manuel Nunes e Ana Meire de Souza, Renan não permitiu que a discriminação racial interferisse em sua vida, ou que o impedisse de crescer como ser humano, nem como profissional. O catuense não desistiu do seu maior sonho: ser professor de educação física. Segundo Renan, “ todas as dificuldades enfrentadas, serviram para que eu tivesse ainda mais orgulho de minha origem afrodescendente, minha cor é motivo de orgulho, não é ela que vai rotular que eu sou, nem vai dizer até onde eu vou ou até que ponto vou conquistar meus objetivos.”
Renan é o exemplo atual da resistência dos negros ao preconceito, e do desejo de colocar-se no lugar de destaque que todo cidadão, seja negro, índio ou pardo, pode ocupar na sociedade. Por isso, para fomentar reflexões como essas, foi instituído 20 de novembro, como o Dia da Consciência Negra. A data homenageia Zumbi, o líder do Quilombo dos Palmares, que morreu 20 de novembro de 1965.
O dia da Consciência Negra foi criado no governo Lula, através da Lei nº 10.639 de 9 de janeiro de 2003, que informa sobre a inclusão da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” no currículo escolar, estabelecendo assim, que as escolas iriam comemorar a data. Mas apenas no governo de Dilma Rousseff, e através da Lei nº 12.519 de 10 de novembro de 2011, que essa data foi oficializada, criando o “Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra”, sem obrigatoriedade de ser feriado.
Reportagem Carla Sousa
Produção e Edição de texto Donaire Verçosa
Fotos João Vitor Araújo
Arte Antônio Vitor