Reflexão sobre intolerância religiosa marca o mês da consciência negra
Originária da discriminação oriunda da escravidão imposta ao povo negro no Brasil pelos antepassados, as religiões de matriz africana sofrem a marginalização e o desrespeito social até os dias atuais
A perseguição aos terreiros e adeptos da umbanda e candomblé está longe de ser uma invenção moderna, pois a mesma é originada do racismo que acompanha o povo negro há séculos, desde que chegou ao Brasil escravizado. Segundo dados divulgados através do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, Denúncias de ataques a religiões de matriz africana sobem 47% no país em comparação ao ano de 2017.
A intolerância religiosa é caracterizada quando uma pessoa não aceita a religião ou crença de outro indivíduo. O Brasil, pela constituição, é um Estado Laico. Em teoria, deve ser independente, sem influências da Igreja. As raízes dessa abordagem são tão profundas, que vem desde a cultura da sociedade brasileira que já no final do período escravocrata, no fim do século 19, o preconceito, o racismo e a intolerância havia alcançado os contornos que tem hoje.
Em Catu, há um marco histórico através das religiões de Matriz Africana, tendo em Vista que a região é marcada por uma população declarada Negra, e possui em diversos pontos da cidade, terreiros de Axé.
“A toda essa intolerância, a resposta que vem do interior dos terreiros é a luta pacífica pelo direito, constitucional, da prática da fé ancestral com liberdade. A luta por respeito tem marcos históricos desde o período escravocrata, onde é demarcada a história de um povo guerreiro não somete pela cor, mas por perseverança para preservar a sua ancestralidade. No Brasil existem diversificados tipos de religião que cultuam diferentes Deuses, e a intolerância advém do próprio homem, e não da sua religião, pois a finalidade de cada cunho religioso é promover paz.Ainda Ressalto a importância da implantação do ensino da cultura afro-Brasileira nas escolas, e o conhecimento como um todo, porque infelizmente a intolerância religiosa é formada por ignorância humana. Relata o Historiador, Apoena silva.
A Sacertotiza Afro Descendente e Presidente do Terreiro e Associação ILÊ Asé Oyà Demir, Mãe Leu de Oyá relata a dificuldade da implantação de eventos do Axé no município, haja vista que a função da religião de Matriz Africana em si, é abordar o lado espiritual do ser humano, trazendo a ancestralidade afro-brasileira derivada de cultos tradicionais africanos, na qual há crença em um Ser Supremo e culto dirigido a forças da natureza personificadas na forma ancestrais divinizados: orixás, voduns ou inquices, dependendo da nação.
“ Nasci e me criei no Candomblé, popularmente conhecido como Axé, que representa a força sagrada de cada orixá. Participo ativamente de palestras e sou conhecida em várias localidades da Bahia, por participar de projetos que incluem a igualdade e respeito para o povo do Axé. Todos nós temos o sangue vermelho, e acredito que quando um indivíduo busque por paz espiritual, este deve ser respeitado independentemente de sua escolha, seja ela evangélica, católica, ou até aqueles que não tem crenças religiosas, pois cada um merece o respeito por seu livre arbítrio”. Pontua a Yalorixá Mãe Leu de Oyá, homenageada no dia 20 deste mês no Encontro das Nações, realizado em Alagoinhas, para homenagear líderes religiosos do Axé por seus trabalhos prestados a sociedade.
No Brasil, a cada 21 de janeiro comemora-se o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. A data, que é baseada na Lei de n° 11.635, é em homenagem à Iyalorixá Mãe Gilda, do terreiro Axé Abassá de Ogum, em Salvador – que sofreu infarto após ser acusada de charlatanismo e ter sua casa e terreiro invadidos.
O dia de enfrentamento, em vigor desde dezembro de 2007, é na mesma data de falecimento da Iyalorixá, que tornou-se símbolo de combate à intolerância, especialmente em relação as religiões de matrizes africana.
Você pode realizar denuncia por intolerância religiosa através do Disk 100. O canal funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana, para denúncias de violações aos direitos humanos.