MÚSICAS DE PLÁSTICO
Na música da moda ou de plástico leva-se em conta aquilo que o mercado deseja vender, em detrimento da qualidade na composição melódica
Por Ada Anjos
Qual a vantagem de algo ser feito de plástico? Durar quase uma eternidade para se desfazer, mas isso não quer dizer que daqui há alguns anos de evolução tecnológica, teremos museus espalhados pelo país para mostrar o que foi esse tipo de material.
Sua utilidade e desvalorização em um curto período de tempo são como as coisas que vivem em constante mutabilidade, não seria diferente com a música, ela também continua evoluindo.
Acontece assim desde que por volta de 1860, o cientista inglês, Alexandre Pakers, conceituado cientista de Birmingham (Inglaterra), que deu início aos primeiros experimentos do material que chamaríamos hoje de plástico. O nitrato de celulosa, um tipo de resina que ganhou o nome de “Parkesina”.
O material era utilizado em estado sólido e tinha como características principais flexibilidade, resistência a água, cor opaca e fácil pintura.
Em 1862, ocasião da Exposição Internacional de Londres, Pakers apresentou as primeiras amostras do que podemos considerar o antecessor da matéria-plástica, ponto central de uma grande família de polímeros que nos dias de hoje contém centenas de componentes.
Qualquer semelhança com a analogia musical não é mera coincidência. Alguém em algum momento da nossa história, iniciou a era da música de plástico: útil por um curto período de tempo mas logo descartável.
Um novo ciclo iniciou-se e o que temos nas novas músicas da atualidade?
Um paradigma musical que conduz a demência. Composições que denotam inteligência curta, falta de raciocínio expansivo no que diz respeito a construção da composição nos quesitos melodia, harmonia, ritmo e texto, por não terem conhecimento técnico e teórico. Canções que exprimem bobagens e comportamentos primitivos como: agressão, desrespeito, promiscuidade, desordem intelectual, falta de leitura, falta de poesia e de virtudes do ser humano. Ausência de singularidade e genuinidade nos intérpretes, assuntos corriqueiros e repetitivos, falta de novidade e expressividade memoráveis.
Nossa música também representa nosso nível de intelectualidade, conhecimento, grau de instrução, esmero pela arte e não apenas balançar de corpos um empurrando o outro num frenesi in loco.
Mas você sabe como uma música é composta? Quais as partes principais? Assim como a formação do plástico tem seus ingredientes a música também tem seus elementos.
O primeiro é a melodia, que são notas escolhidas conscientemente ou surge instintivamente, sendo tocadas uma de cada vez.
Algo corriqueiro do dia à dia como assobiar qualquer coisa enquanto dirige é um exemplo de como os sons emitidos por um assobio são notas. Esse conjunto de notas é o que denominamos de melodia. Ela geralmente segue um padrão matemático, quanto mais conhecimento, mais melodias inteligentes, com significados para quem ouve e que consequentemente irá se comunicar com partes mais profundas do nosso ser.
Essa é a melodia composta com esmero técnico nas construção nos faz sentir a presença uma sensação de bem estar, paz de espírito e até termos momentos de nostalgia, ou outras sensações talvez não positivas.
O segundo é a harmonia, que é um conjunto de notas tocadas ao mesmo tempo, um assobio não pode ser harmonia porque as notas são emitidas sequencialmente, já se três pessoas assobiarem cada um uma nota diferente poderemos ter uma harmonia, mas há questões técnicas a respeito de como desenvolvê-las tanto quanto a melodia. Geralmente as notas da melodia fazem parte da simultaneidade harmônica.
Por último temos o ritmo, que é altamente independente da melodia ou harmonia. Quando andamos desenvolvemos ritmo, quando falamos também, ou simplesmente quando fazemos um batuque na mesa. Podemos ter ritmo sem melodia, mas não teremos melodia sem ritmo, ele é a distribuição regular dos valores de tempo.
Quanto tempo duraria o som de uma nota, quanto tempo duraria o movimento de uma dança, isso é a expressão do ritmo.
Mas como andam as melodias, harmonias e ritmos das nossas músicas atuais? Há poesia? Melodias significativas e marcantes? Você já parou pra pensar porque muitas músicas antes de nascermos continuam fazendo sucesso até hoje? O que difere? Uma das respostas para as questões é que o compositor não desenvolve mais sua originalidade, mas sim o que o empresário entende que é bom, só que esse empresário não é músico.
A ideia de que devamos acompanhar o avanço, mesmo que ele seja prejudicial, nos levando até mesmo a demência intelectual, para muitos o que importa é seguir o “desenvolvimento” ou o “progresso” musical e não ficar para trás.
Pode ser também uma estratégia de nos tornarem retrógrados quanto ao senso crítico, e com a arte isso é muito mais fácil, ela esconde no prazer do ouvir, dançar, tocar ou se divertir muitas vezes seu real objetivo.
Mas por que as músicas de Ernesto Nazareth, Beatles, Pixinguinha, Michael Jackson e tantos outros são tão vivas até hoje, e várias composições de 2016 já não irão servir para 2017? Porque são descartáveis tanto quanto um copo plástico, desses que tomamos um refrigerante em qualquer boteco e logo amassamos e jogamos no lixo.
Há quem acredite na função didática, pedagógica ou filosófica de tais músicas, e realmente existindo essa cooperação, é algo muito breve, porque tocar ou cantar os sucessos de 2015, 2016 no ano de 2017 para os mesmos que apreciavam, agora é visto como cafonice ou fora de moda, porque já existem ou estão chegando as novas de 2017, que terão alguns meses de importância e logo serão esquecidas como qualquer produto que compramos no supermercado dentro em um recipiente plástico e ao ser consumido o produto possivelmente irá para o lixo.