Máscaras, vacinas de reforço e novas variantes: o que nos reserva o futuro pós-pandemia?,
Conforme avançamos para o terceiro ano de pandemia, os especialistas deixam o alerta: não se espere que a variante Ômicron seja a última estirpe do vírus com a qual teremos de lidar e não é época de baixar a guarda. Devido a vasta onda de infecções mais leves, diversos países já estão diminuindo as restrições e suavizando as medidas de contenção da Covid-19.
A crise pandêmica não termina até que acabe em todos os lugar. Os efeitos vão continuar a ser sentida nas nações mais ricas – interrompendo as cadeias de abastecimento, planos de viagem e assistência médica – à medida que o coronavírus permanece em grande parte dos países em desenvolvimento, que estão subvacinados e assim continuarão nos próximos meses.
Mas, primeiro, é preciso superar a onda atual. A Ômicron pode parecer causar doenças menos graves do que as variantes anteriores mas é altamente infecciosa, tendo motivado um número da casos recorde em diversas partes do mundo. Além do mais, surgem evidências de que a variante pode não ser tão inócua quanto os dados iniciais sugerem. Assim como não há garantia de que uma próxima mutação – e os especialistas avisam que haverá mais – não será uma ramificação de uma variante mais perigosa, como a Delta.
“O vírus vai continuar a elevar o seu nível para nós a cada poucos meses”, explicou Akiko Iwasaki, professora de epidemiologia da Escola de Medicina de Yale, nos Estados Unidos. “Quando comemoramos a incrível eficácia das vacinas e reforços contra a variante Delta, já a havia o início da elevação dos casos pela Ômicron. Parece que estamos constantemente tentando acompanhar o vírus”, frisou.
É por esse motivo que diversos especialistas concordam que é muito cedo para assumir que a situação está sob controle, apesar da chegada ao mercado de medicamentos antivirais, da expansão das vacinas e a testagem maciça. Nos próximos seis meses, muitos dos países ricos vão fazer a transição de uma situação pandêmica para endêmica. Mas isso não quer dizer que as máscaras vão ser coisas do passado – teremos de lidar com as vacinas de reforço, assim como recuperar das cicatrizes econômicas e políticas da pandemia, além, claro, do ‘Long Covid’.
“Há muitas conversas sobre o fato de a Ômicron ser um vírus leve e estar funcionando como uma vacina natural atenuada que vai criar uma imunidade pelo mundo”, frisou Peter Hotez, reitor da Escola Nacional de Medicina Tropical no Baylor College of Medicine em Houston. “Isso é uma falha por várias razões.”
Os especialistas acreditam que o vírus não vai desaparecer completamente agora e, em vez disso, vai continuar evoluindo para criar novas ondas de infecção. As mutações são possíveis sempre que o patôgeno se replica pelo que o aumento do número de casos coloca todos em perigo. O tamanho do surto atual significa que mais hospitalizações, mortes e mutações do vírus são inevitáveis. Muitas pessoas infectadas não estão entrando nas estatísticas oficiais, seja porque o resultado do teste caseiro não é registado ou porque não houve sequer teste.
Trevor Bedford, epidemiologista do Fred Hutchinson Cancer Research Center, em Seattle, estimou que apenas entre 20 e 25% das infecções pela Ômicron nos Estados Unidos seja relatada. Com os casos diários a atingir uma média de mais de 800 mil em meados de janeiro, o número de infecções pode ter excedido 3 milhões por dia – ou quase 1% da população americana. Como leva entre 5 e 10 dias para recuperar, até 10% das pessoas do país podem ter sido infectadas a qualquer momento.
“Com a Ômicron, por ter mais um componente respiratório superior, é ainda menos provável que resulte numa imunidade durável”, explicou Hotez. “Por isso é um pensamento incorreto acreditar que será o fim da pandemia.”
A preparação para as próximas variantes é, por isso, vital. “Enquanto houver áreas do mundo no qual o vírus possa estar a evoluir, todos seremos suscetíveis a essas novas variantes”, garantiu Glenda Gray, diretor executiva do Conselho de Pesquisa Médica da África do Sul. Os ‘lockdowns’, as quarentenas ou as restrições nas viagens não vão desaparecer, mesmo que se tenham tornado menos restritivas em geral num passado recente.
A vacinação continua a ser a principal linha de defesa contra a Covid-19 – mais de 62% das pessoas de todo o mundo receberam pelo menos uma dose. Ao ritmo atual, vai levar mais cinco meses até que 75% da população mundial receba a primeira injeção.
“Enquanto nos recusarmos a vacinar o mundo, vamos continuar a ver novas ondas”, alertou Hotez. “Continuaremos a ter variantes bastante perigosas originárias de países de baixo e médio rendimentos. É aí que vai estar o campo de batalha.”
Amesh Adalja, acadêmico do Centro de Segurança da Saúde da Universidade Johns Hopkins em Baltimore, vê a pandemia continuando em 2023 para partes do mundo em desenvolvimento. “Para mim, a transição de pandemia para endemia é quando deixa de haver preocupação com a pressão nos hospitais. Isso vai acontecer na maioria dos países ocidentais em 2022 e vai demorar um pouco mais de tempo para o resto do mundo.”
Fonte: Isto é