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JORNALISTAS BAIANAS FALAM SOBRE O LEGADO DEIXADO POR GLÓRIA MARIA A IMPRENSA BRASILEIRA

Foto: Reprodução/ Wanda Chase e Glória Maria

A morte de uma das jornalistas do Brasil, Glória Maria, já confirmada na manhã desta quinta- feira, deixou muitos brasleiros atônitos, já que Glória não havia divulgado a volta acentuada do avanço do câncer e até então o que sabia -se é que ela havia sido diagnósticada mas seguia com a doença controlada.

Artista, políticos e personalidades de várias áreas manifestaram seu pesar em redes sociais, uma delas a amiga de Glória, a jornalista Wanda Chase, ex-TV Bahia, que em depoimento divulgado pelo Bahia Meio Dia, a repórter revelou uma relação próxima entre as duas.

“Falar sobre Glória Maria é muito doloroso para mim. Uma mulher que tive a honra de conviver, que dividiu intimidades profissionais comigo, que me ensinou muito. Uma mulher negra, como eu. Uma mulher que sabia conversar com o Brasil, que criou um jornalismo diferente. A Glória nos deixa neste momento. E deixa muitas grandes lições”, disse Wanda. ( Fonte: Correio 24h)

Camila França- Jornalista

A Jornalista Camila França, com mais de uma década de atuação nos principais veículos de comunicação da Bahia como TVE Bahia, Rádio Educadora, BandNews, Jornal A Tarde e Rádio Globo.

No campo das lutas sociais, de gênero e raça foi consultora do UNFPA ( Fundo de População das Nações Unidas) e assessora de imprensa do Instituto Steve Biko, Instituto Mídia Étnica (IME) e, atualmente, é coordenadora de projetos do Instituto Commbne.

Desde 2021 é redatora do portal Brasil 247, apresentadora da TV 247, Camila conversou conosco sobre o legado de Glória Maria para ela o quanto mulher preta e colega de profissão:

” O que sou hoje e que ainda tenho a conquistar, tem a influência e a importância da carreira e da dedicação de Glória, ela desbravou e abriu portas, algumas ela teve que empurrar mesmo, “meter o pé” para que fossem abertas, para que hoje nós como mulheres pretas, comunicadoras, pudessémos estar à frente na televisão, representando e sendo nós mesmas, com valorização do nosso trabalho e do nosso pontencial. Eu sou uma pessoa que respeito a ancestralidade e ela é das nossas “mais velhas”, que pavimentou nosso caminho para que a gente pudesse percorrê-lo. Então Glória Maria é inspiração e como eu coloquei na minha postagem, vamos continuar trilhando esse caminho e mostrando para as mais novas, que é há esperança, que sim nós podemos, a luta é grande mas estamos conseguindo, e não mais estamos pedindo, mas sim exigindo nosso lugar nesses espaços de poder e representavidade, por isso ela deixa essa dor imensa em todos e todas nós, sobretudo para as mulheres e homens pretos em todo país e em meninas que sonham em ter seus rostos representados na TV.” Pontuou Camila França.

Print da postagem do instagram de Camila França

A Jornalista Patrícia Narriman, também mulher, negra e uma comunicadora, Patrícia tem passagem por respeitados veículos de comunicação como; Rádio A tarde FM, TV Bandeirantes, TVE, TV Aratu, Rádio Itaparica FM, Rádio FM 104, Rádio Metrópole como apresentadora do programa Metrópole Autos, entre outros. Atualmente é jornalista da Secretaria de Comunicação da Bahia e Editora-Chefe da TV ALBA, emissora da Assembleia Legislativa da Bahia, Patrícia conta como construiu sua carreira no jornalismo baiano, vencendo o preconceito de cor e gênero que ainda existe em todas as profissões e o quanto Glória a inspirou na sua carreira:

Jornalista Patrícia Narriman

“Icone do jornalismo brasileiro por diversos motivos: mulher, preta, profissional de mão cheia. A representatividade negra na principal emissora do país há 53 anos – não é para qualquer uma. Nós brasileiros e, viajamos muito com Glória e os países mais inusitados – conhecemos diversas culturas, comidas, participamos de várias aventuras! Sem dúvida, uma enorme perda para o país e para o jornalismo.

“Falando dela aqui lembrei de um primo que me chama desde pequena de Gloria Maria baiana.. Que honra! “

Patricia também chegou a ser pauta de um TCC sobre “Negras no Telejornalismo” e que você pode conferir no ink a seguir:

https://repositorio.ufba.br/bitstream/ri/32619/1/MEMORIAL%20RAQUEL%20SANTANA%20OK%20%281%29.pdf

Foto: reprodução TV Globo

Sobre Glória Maria

A jornalista Gloria Maria morreu no Rio de Janeiro na manhã desta quinta-feira (2), no hospital Copa Star. No mês passado, Gloria havia sido internada para “dar sequência a um tratamento” de saúde. A notícia foi confirmada em nota divulgada à imprensa pela Globo.

Ao lamentar o falecimento, a emissora afirmou no comunicado que “em meados do ano passado, Gloria Maria começou uma nova fase do tratamento para combater novas metástases cerebrais que, infelizmente, deixou de fazer efeito nos últimos dias”.

Em 2019, a jornalista e apresentadora foi diagnosticada com um tumor no cérebro, que apresentou metástase, e ela precisou passar por cirurgia. À época, o tratamento teve êxito.

Primeira jornalista a entrar ao vivo e em cores no Jornal Nacional, Glória Maria foi pioneira inúmeras vezes. Esse pioneirismo é reconhecido como inspiração para mais de uma geração de mulheres negras.

Ao longo de cinco décadas de carreira, Glória Maria mostrou mais de 100 países em suas reportagens e protagonizou momentos históricos. Entrevistou chefes de Estado e celebridades como Michael Jackson e Madonna.

Também cobriu a Guerra das Malvinas, em 1982; a invasão da embaixada brasileira do Peru por um grupo terrorista, em 1996; os Jogos Olímpicos de Atlanta, também em 1996; e a Copa do Mundo de 1998, na França.

Na TV Globo deste 1970, passou ainda por Bom Dia Rio, RJTV, Jornal Hoje, Fantástico e Globo Repórter, último programa do qual fez parte (veja, mais abaixo, detalhes sobre a trajetória da jornalista).

“Eu sou uma pessoa movida pela curiosidade e pelo susto. Se eu parar para pensar racionalmente, não faço nada. Tenho que perder a racionalidade para ir, deixar a curiosidade e o medo me levarem, que aí eu faço qualquer coisa”, disse sobre seu trabalho.
Glória Maria Matta da Silva nasceu no Rio. Filha do alfaiate Cosme Braga da Silva e da dona de casa Edna Alves Matta, estudou em colégios públicos e sempre se destacou. “Aprendi inglês, francês, latim e vencia todos os concursos de redação da escola”, lembrou em entrevista ao Memória Globo.

No início da juventude, Glória Maria também chegou a conciliar os estudos na faculdade de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio) com o emprego de telefonista da Embratel.

Em 1970, foi levada por uma amiga para ser radioescuta da Globo do Rio. Naquele tempo sem internet, ela descobria o que acontecia na cidade ouvindo as frequências de rádio da polícia e fazendo rondas ao telefone, ligando para batalhões e delegacias.

Na Globo, tornou-se repórter numa época em que os jornalistas ainda não apareciam no vídeo. A estreia como repórter foi em 1971, na cobertura do desabamento do Elevado Paulo de Frontin, no Rio de Janeiro. “Quem me ensinou tudo, a segurar o microfone, a falar, foi o Orlando Moreira, o primeiro repórter cinematográfico com quem trabalhei”.

Glória Maria trabalhou no Jornal Hoje, no RJTV e no Bom Dia Rio. Coube a ela a primeira reportagem do matinal local, há 40 anos, sobre a febre das corridas de rua.

No Jornal Nacional, foi a primeira repórter a aparecer ao vivo. Cobriu a posse de Jimmy Carter em Washington e, no Brasil, durante o período militar, entrevistou chefes de Estado, como o ex-presidente João Baptista Figueiredo.

“Foi quando ele [João Figueiredo] fez aquele discurso ‘eu prendo e arrebento’ – para defender a abertura [1979]. Na hora, o filme [para fazer a gravação da entrevista] acabou e não tínhamos conseguido gravar”, lembrava ela.

“Aí eu pedi: ‘Presidente, é a TV Globo, o Jornal Nacional, será que o senhor poderia repetir?’. ‘Problema seu, eu não vou repetir’, disse Figueiredo. O ex-presidente dizia para a segurança: ‘Não deixa aquela neguinha chegar perto de mim’.”

Sucesso no Fantástico

A partir de 1986, Glória Maria integrou a equipe do Fantástico, do qual foi apresentadora de 1998 a 2007. Ficou conhecida pelas matérias especiais e viagens a lugares exóticos, e por entrevistar celebridades como Michael Jackson, Harrison Ford, Nicole Kidman, Leonardo Di Caprio e Madonna.

Com a cantora, Glória teve um encontro que definiu como especial. “Eu saí daqui, e diziam que a Madonna era difícil. Foi antipaticíssima com a Marília Gabriela e debochou do seu inglês”. Ao chegar, Glória Maria foi informada de que tinha quatro minutos para entrevistar Madonna.

A repórter contou que entrou em pânico. Mas, na hora, falou: “Olha, Madonna, eu tenho quatro minutos, vou errar no inglês, estou assustada, acho que já perdi os quatro minutos.” Para sua surpresa, a estrela virou-se para a equipe técnica e disse: “Dê a ela o tempo que ela precisar.”

Viagens a mais de 100 países


Para o Fantástico, a jornalista viajou por mais de 100 países, passando pela Europa, África e parte do Oriente, quando mostrou um mundo novo ao telespectador.

Foi a repórter que entrou no ar ao vivo, na primeira matéria com imagem colorida do Jornal Nacional, em 1977, mostrando o movimento de saída de carros do Rio de Janeiro, em um fim de semana. Naquele dia, foram usados equipamentos portáteis de geração de imagens.

Na primeira cena, a lâmpada queimou e a repórter passou seu primeiro sufoco no ar.

“Eu estava dura, rígida, porque não podia errar. Era a primeira entrada ao vivo. Faltavam cinco, dez minutos, era o técnico que ficava com o fone para me dar o ‘vai’. Quando a lâmpada queimou, faltava um minuto para a entrada ao vivo. O jeito foi acender a luz da Veraneio (carro usado pela emissora nas reportagens).”

O repórter cinematográfico e a repórter tiveram que ficar de joelhos, com o farol no rosto de Glória Maria, e a matéria entrou no ar.

Primeira transmissão em HD


Em 2007, ao lado do repórter cinematográfico Lúcio Rodrigues, a jornalista realizou a primeira transmissão em HD da televisão brasileira. Foi uma reportagem no Fantástico sobre a festa do pequi, fruta de cor amarela adorada pelos índios Kamaiurás, no Alto Xingu.

Volta ao mundo no Globo Repórter
Após dez anos no Fantástico, Glória Maria tirou dois anos de licença para se dedicar a projetos pessoais, como as viagens à Índia e à Nigéria, onde trabalhou como voluntária. Nesse período, adotou as meninas Maria e Laura e, ao retornar à Globo, em 2010, pediu para integrar a equipe do Globo Repórter, último programa do qual fez parte.

Estreou com a matéria “Brunei Darussalam: A Morada da Paz”; um ano depois fez “Butão: O País da Felicidade” – as duas matérias sobre o pequeno sultanato no Sudeste Asiático, na fronteira com a Malásia.

Em 2010, esteve no Grand Canyon, nos Estados Unidos, quando andou de balão e desceu de bote o Rio Colorado. No mesmo ano fez Duas Chinas, também para o Globo Repórter, e apresentou ainda o especial de Roberto Carlos na Praia de Copacabana.

Glória foi escolhida pelo Rei para a entrevista que concedeu em sua residência e na qual ele acabou cantando para ela. Em 2011, apresentou o show que o cantor fez em Jerusalém. Na ocasião, Roberto Carlos tirou a apresentadora para dançar.

Em 2012, a jornalista mostrou o Oásis da paz em Omã e fez um passeio com camelos pelo deserto. Logo depois, passou por Dubai.

A França foi um dos países visitados em 2013. Na ocasião, foram exibidas as belezas do Vale do Loire, Champagne e Provence. No mesmo ano, revelou a cultura e os costumes dos moradores do Vietnã, Laos e Camboja. Passou também por Myanmar, no sul da Ásia, onde fez reportagens sobre o misticismo na região.

As paisagens do Reino Unido, Suécia e Lapônia foram temas do Globo Repórter em 2014.

No ano seguinte, a jornalista mostrou as belezas de Marrocos, como a cidade azul, Marrakesh, os encantadores de serpente e a colheita do argan feita pelas cabras. Cruzou o deserto do Saara em um dromedário e mostrou a vida dos povos nômades.

Em 2016, visitou a Jamaica, onde teve a oportunidade de entrevistar o campeão mundial de atletismo Usain Bolt e participou dos rituais de uma comunidade rastafári.

Em 2017, Glória Maria foi à China e fez matérias em Hong Kong, onde cuidou de um panda gigante, e pulou do mais alto bungee-jump do mundo em Macau, com 233 metros de altura.

Em setembro de 2019, Sérgio Chapelin se aposentou, após 23 anos no Globo Repórter. A partir daquele mês, Glória Maria passou a dividir a apresentação do programa com a jornalista Sandra Annenberg.

Convite da Unicef e homenagem no Rio


Em 1998, Glória foi convidada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância e a Juventude (Unicef) para ser uma das apresentadoras de um concerto beneficente para a Etiópia.

Dez anos depois, em 2008, ela recebeu uma homenagem da Câmara Municipal do Rio de Janeiro com a Medalha Chiquinha Gonzaga. O resumo da vida de Glória Maria tem os créditos reservados ao G1.

Redação