Influenciadores indígenas ocupam as redes sociais com informação e tradições
Comunicadores indígenas relataram que as redes sociais têm sido ferramentas importantes para ampliar o protagonismo das comunidades.
Os povos indígenas estão em todo lugar. Sejam nas aldeias ou nas cidades, os originários resistem e lutam por seus direitos, que foram e continuam sendo ameaçados da colonização do Brasil até aqui. Com a democratização da internet, a presença indígena tem crescido nas redes sociais, com a criação de conteúdos sobre rotina, gastronomia, tradições e cultura. No TikTok, por exemplo, hashtags relacionadas aos povos originários somam mais de 21 mil vídeos publicados. No Dia Dos Povos Indígenas, celebrado nesta sexta-feira (19/4), eles relataram que as redes sociais têm sido ferramentas importantes para ampliar o protagonismo indígena no Brasil.
Portanto, a presença na internet é vista pelo comunicador como uma “ponte” entre os indígenas e não indígenas. “Eu percebi uma oportunidade de falar para muitas outras pessoas sobre a realidade indígena. Foi dessa maneira que eu me tornei comunicador, mas eu já me comunicava sobre o meu povo muito antes disso. A internet só foi uma ferramenta de algo que eu já fazia, e com isso eu percebi também que muitos outros parentes indígenas estão vivendo o mesmo”, afirma.
Cristian lembra, ainda, que os indígenas sempre estiveram representados nos meios de comunicação do ponto de vista não indígena. Nesse sentido, as redes sociais emergem como uma possibilidade dos povos falaram por eles mesmos. “Tudo isso foi muito interessante, porque culminou no entendimento um pouco melhor de muitos brasileiros em relação a quem são os povos indígenas do Brasil, e não a partir de uma só voz. Muitos criadores estão surgindo de diversas regiões e realidades do país, falando de várias questões, de gênero indígena, de arte e música indígena, de política indígena”, cita o comunicador.
“Protagonistas das nossas histórias”
A bióloga e comunicadora Samela Sateré Mawé vem da Associação das mulheres indígenas Sateré Mawé, que fica em Manaus, no Amazonas, e vive basicamente da venda de artesanato. Durante a pandemia de covid-19 tudo fechou e o grupo teve que reinventar-se com a produção de máscaras. “A gente já tinha um perfil nas redes sociais em que postávamos as nossas exposições, mas não tinha muita visibilidade, mas com a ação de produção das máscaras, ganhamos mais. Foi daí que eu passou a comunicar o que estava acontecendo com a nossa associação”, lembra Samela.
“Nós nunca fomos protagonistas das nossas narrativas, por muito tempo muitas pessoas já falaram por nós. E agora, pela primeira vez, a gente tem a oportunidade de sermos os protagonistas de nossas histórias, falarmos quem nós somos, onde vivemos, o que queremos. Essa é a importância das redes sociais para nós, de sair do chão da aldeia para ir para o chão do mundo. Nossas vozes alcançam lugares que antes não alcançávamos. A internet tem sido ferramenta de luta e resistência. A gente consegue denunciar, alcançar a política, pedir mais saúde e educação”, emenda a bióloga e comunicadora.
Dia dos Povos Indígenas
Para Samela, o Dia dos Povos Indígenas é um dia de resistência. “A gente não tem o que comemorar, pois as nossas terras precisam ser demarcadas, a gente ainda é assassinado dentro dos nossos territórios, sofremos violências e preconceitos todos os dias”, ressalta a indígena.
Por outro lado, Cristian pontua que a data também é fundamental para destacar a diversidade indígena, pois os povos originários estão em constante mudança, mas esse fato não deve ser usado pela sociedade para considerar os povos como “menos indígenas”. Cabe lembrar que o Brasil tem mais de 305 etnias e 274 línguas indígenas.
Desde o ano passado, o Dia do Índio passou a se chamar Dia dos Povos Indígenas. A mudança tem o objetivo de representar de maneira mais apropriada a diversidade cultural e étnica dos povos originários. Para Joenia Wapichana, presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), o termo “índio” tem conotação pejorativa. “O propósito da alteração do nome é reconhecer o direito desses povos de, mantendo e fortalecendo suas identidades, línguas e religiões, assumir tanto o controle de suas próprias instituições e formas de vida quanto de seu desenvolvimento econômico”, destaca. (Matéria: Correio Braziliense)