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Depois de mais de cem dias de home office, especialistas mostram como retomar rotina

Veja como se preparar para o retorno: faça exercícios respiratórios e converse com um terapeuta se sentir que precisa de ajuda

Um levantamento do Ministério da Saúde mostrou que os transtornos psicológicos são a terceira maior causa de afastamento dos colaboradores nas empresas ao solicitarem o auxílio-doença pelo INSS. Depois de mais de 100 dias em home office, por causa da pandemia de covid-19, é natural que os trabalhadores se sintam ansiosos com a perspectivas de retornar às atividades laborais na forma presencial. 

O problema é quando essa ansiedade se transforma num transtorno ansioso, que compromete a qualidade de vida e se manifesta na forma de medo constante, impossibilidade de sair de casa ou se relacionar com as pessoas, irritabilidade ou sensibilidade extremada, sintomas físicos como dores de cabeça, insônia ou excesso de sono, falta ou excesso de apetite.

A psicóloga Isabella Barreto lembra que, nessa quarentena, houve um desenvolvimento exponencial de transtorno de ansiedade, depressão, e outros sintomas relacionados à saúde mental. “Exatamente por isso, é fundamental que os trabalhadores possam falar sem constrangimentos sobre seus sintomas, suas dificuldades, que possam ser acolhidos e apoiados nesse período de retorno às atividades laborais”, afirma. 

Para ela, ter um profissional da área de saúde mental a quem recorrer na empresa será de grande relevância nesse momento. “A psicoterapia é um excelente recurso. Temos que considerar sempre que a pandemia causada pelo coronavírus afetou em proporções gigantescas a existência do ser humano, alterando toda a maneira de viver”, diz.


Apoio empresarial

O presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), o médico Antônio Geraldo da Silva salienta que todos estão passando pela mesma coisa, então sentir o apoio da empresa é fundamental para a retomada da rotina. “As empresas podem (além de disponibilizar o essencial como álcool em gel nos postos de trabalho, higienização do ambiente, para que os colaboradores se sintam seguros e protegidos) também procurar transformar o trabalho em algo prazeroso, na medida do possível, disponibilizando alguns recursos terapêuticos como teleorientação, teleconsulta, orientações para melhorar a qualidade de vida e, inclusive, uma melhor saúde mental”, completa.

Isabella Barreto lembra que a empatia, atenção e cuidados com a readaptação dos colaboradores ao ambiente organizacional vão contribuir de forma positiva na produtividade e, consequentemente, nos lucros das organizações. “As empresas estarão melhor preparadas para receber seus colaboradores e recobrar o ritmo empresarial se atentar para a relevância do cuidado com a saúde mental e incentivo ao restabelecimento do vínculo dos funcionários”, complementa. 


Para a psicóloga, os sintomas como a sensação de inadequação, medo, insegurança, estranhamento, falta de vontade, tristeza persistente, irritabilidade, pensamento acelerado, hipervigilância, dificuldade de tomada de decisões e concentração, taquicardia, “nó” na garganta, aperto no peito, choro merecem ser considerados como um sinal de alerta . “Todo sintoma, quando precocemente tratado, é muito mais rápido o resultado exitoso do tratamento”, defende.

Sem estresse
Antônio Geraldo salienta que quando se trata de gente, não existe fórmula mágica ou receita de bolo e cada situação precisa ser vista individualmente e que as empresas precisarão estar atentas nesse momento de retomada. “O mais importante é a pessoa compreender se o que ela tem é ansiedade de fazer, de produzir, ou se é algo incapacitante e que cause sofrimento. Quando sentir que o dia a dia está ficando mais pesado, que está precisando de mais equilíbrio, é necessário que se avalie se a sua rotina diária”, ensina o psiquiatra. 

Para ele, nessas horas, vale respeitar os limites fisiológicos da alimentação e repouso, verificando se existem atividades que proporcionem o relaxamento e o lazer, mesmo que isso seja proporcionado por chamadas de vídeo com os amigos, assistir a um filme na TV ou ler um bom livro, medidas essas que aliadas aos exercícios físicos ajudam muito. “É muito importante equilibrar os cuidados pessoais, o trabalho e o lazer. Quando não conseguimos fazer isso pode influenciar no desequilíbrio emocional”, diz.

Isabella chama atenção para o fato de que a redução do estresse passa pelo autoconhecimento também, destacando que a psicoterapia, as técnicas de meditação, atividade física, qualidade do sono e alimentação são muito relevantes. “Uma sugestão às empresas é pensarem dentro de suas possibilidades a inserção na rotina laboral, de momentos de alongamento, de relaxamento, informações sobre como cuidar da saúde mental e física, o estímulo a continuidade dessas práticas quando estiverem casa, é isso pode ser feito através de psicoeducação”, finaliza.

Atento aos sinais

•    Sentir se ansioso no retorno é algo normal, mas se ultrapassar esse limite é bom falar com alguém
•    Alguns exercícios respiratórios podem auxiliar a pessoa que está ansiosa a se acalmar e, ao mesmo tempo, tirar o foco da tensão
•    Se estiver no trabalho, é bom fazer uma pausa para beber água e caminhar um pouco
•    Se junto à ansiedade, aparecerem sintomas como vontade de chorar, nó na garganta, coração acelerado, medo, irritabilidade, sensação de inadequação,  insegurança, estranhamento, falta de vontade, tristeza persistente, fique atento e procure ajuda
•    Nos primeiros dias do retorno, procure não consumir alimentos ou bebidas que possuam altos índices de cafeína ou outro estimulante, como chá verde, pois eles tendem a acelerar o metabolismo e, com isso, passar ao indivíduo uma percepção de que está ainda mais ansioso. 
•    Se perceber que a ansiedade está atrapalhando atitudes do dia a dia, como concentrar-se para o trabalho, ler, apreender o foco em uma atividade, é o momento de buscar ajuda e avaliar o prejuízo que se pode ter. 

Fonte: Jornal Correio.

Redação