Economia

Como manter seu negócio vivo durante a quarentena

Quando a quarentena foi decretada, a cozinheira e empresária Lili Almeida  ficou em choque. Proprietária do restaurante de comida afetiva e baiana  Dona Lili, ela viu suas cozinheiras incapazes de ajudar na demanda do período próximo à Semana Santa, percebeu que não poderia deixar seu estabelecimento aberto como sempre e que estaria sozinha para cuidar do estabelecimento e das demandas familiares. “Todo o meu faturamento vem da produção cotidiana e, até então, não havia organizado um atendimento com entregas”, conta.

Superado o susto inicial, a opção foi buscar alternativas. A primeira foi acertar com o fornecedor para que a matéria prima fosse entregue em casa. Depois, ela partiu para um contato mais próximo com os clientes, salientando que o restaurante estava oferecendo o serviço de retirada no local. Ela, que nunca foi muito afeita o mundo digital, passou a investir mais nas redes sociais e depois começou a organizar o delivery.

“Estou fazendo tudo sozinha: recebendo a mercadoria, lavando e higienizando tudo e cozinhando, mas muito esperançosa com as encomendas que começam a surgir para a Semana Santa”, diz.

A embaixadora Ibero- Americana de Jovens Empresários e  idealizadora do canal Empreender com Paixão, Flávia Paixão diz que, nesse momento de incertezas e muitas mudanças,  o pequeno empreendedor e empresários estão sendo obrigados a assumir o papel de gestores. “Como gestores, esses empreendedores  precisam tomar decisões. A primeira ação a se fazer é a redução de custos fixos, renegociações e  levantamento de recebíveis. Será preciso ter uma estratégia para garantir os recebimentos por parte dos clientes”, orienta, salientando que, ao mesmo tempo, os empreendedores precisarão repensar  seus negócios de modo a reduzir os impactos da queda ou falta total de faturamento

“Muitos estão se reinventando e quebrando as suas  resistências à mudança.  Algumas destas resistências ou planos sempre postergados e  nunca executadas antes, eram:  as vendas online, o delivery, atendimentos à distância, por exemplo”, diz Flávia, lembrando que, para muitos, mesmo com o mercado apontando tendências e  mudanças,  estas práticas ainda eram vistas como ações não tão relevantes para eles.

Rever  negócios

O gerente regional do Sebrae , Rogério Teixeira diz que o primeiro passo para superar as dificuldades geradas pela pandemia da COVID-19 é aproveitar esse momento, quando tudo está acontecendo mais lentamente para revisitar o próprio negócio. “O empresário precisa verificar a situação geral, ponderando os custos e quais deles podem ser eliminados, o que é pago de forma recorrente e que pode desaparecer da planilha de custos”, orienta, ressaltando ainda que é preciso verificar os produtos e serviços com menor margem de lucro  e definir se devem ou não permanecer no portfólio da empresa.

A própria Lili Almeida, por exemplo, diz que se voltou para as redes sociais, reaprendendo a vender sob uma nova perspectiva. “Sem dúvida, a quarentena está sendo desafiador para todo e qualquer empreendimento”, pontua.

Flávia Paixão destaca que assim como fez Lili, é fundamental investir em relacionamento com cliente e fortalecimento de marca. “ Qual foi a última vez que sua empresa ligou para um cliente com o objetivo de  saber se estava tudo bem com a empresa, com seu atendimento, se ele precisava de algo ou até para perguntar o porquê  de não ter ocorrido pedidos como era de costume? “, questiona, enfatizando que nesse momento é importante fazer contatos com clientes, seja para negociações, parcerias ou  até mesmo para informar que podem contar com a empresa.

Marca forte

Flávia lembra que, para o fortalecimento da marca,  é necessário estar presente nas redes sociais adequadas ao seu negócio de forma planejada, mas que também é necessário cuidar da identidade visual e humanizar a comunicação do negócio. “As empresas precisam vender muito mais do que produtos e serviços, é preciso vender boas experiências, soluções”, enfatiza.  Para ela, a recomendação deve fazer parte do pós-crise também, devem fazer parte da rotina da empresa. ”Agora elas são urgentes, contudo sempre serão essenciais para a sobrevivência do negócio”, ensina.

Com uma postura bem próxima, Teixeira sugere investir em planejamento, se debruçando sempre sobre as possibilidades de cenários  que surgirão à partir de agora. “Aproveite o momento para  ver tudo aquilo que não foi aproveitado antes e busque se  inspirar nos melhores exemplos e as melhores referências”, sugere. 

O representante do Sebrae também chama a atenção para o engajamento da equipe de colaboradores.  “É preciso aprimorar a escuta da equipe, pois desse diálogo podem surgir boas alternativas”, completa.

Flávia salienta ainda a importância de fazer parcerias, principalmente aquelas que reduzem custos, como a entrega em conjunto, compras em conjunto, compartilhamentos de equipamentos. “Não enxerguem concorrentes, mas sim possíveis parceiros querendo sobreviver assim como vocês. Se uma empresa quebra, esse acontecimento agravará o desemprego, com isso, a crise”, finaliza.

Quem passa hoje nos Barris não encontra mais o espaço cheio, as presenças foram substituídas por entregas próprias e parcerias com os vizinhos (foto: Divulgação)

Espaço de solidariedade

Acostumado com um fluxo de clientes intenso de segunda a segunda, o Velho Espanha Bar e Cultura  precisou se reinventar  depois da quarentena. Para tanto, Arthur Daltro instituiu a própria entrega grátis para o bairro e com desconto para abranger um raio de entrega maior e foi buscar alternativas de sobrevivências para ele, a equipe e os vizinhos.

“Reduzimos a equipe para manter  a quarentena e garantir o atendimento, além disso, passamos a orientar os nossos funcionários com as medidas de higiene”, diz um dos sócios do bar e espaço cultural. Outra medida, foi uma parceria com o Esporte Clube Bahia para oferecer ofertas especiais aos associados. 

Por verificar como a queda de movimento impactou na vida dos vizinhos ao entorno do bar, Daltro e outros comerciantes buscaram uma associação solidária para apoiar aqueles mais fragilizados e, desde a última sexta, instituiu no bar a venda do Choripan do Alejandro, o acarajé de Rosa e Abará de Vera. “Elas trarão os seus ingrediente e nossa equipe preparará aqui e comercializará junto com o delivery do Velho Espanha”, garante. 

Por ser um espaço de cultura, o espaço também contemplou um chapéu virtual, onde os artistas fazem lives nas redes sociais do bar e o público é incentivado a contribuir diretamente na conta dos artistas no esquema pague o quanto puder. “O momento pede estratégias e estamos buscando isso”, conclui.

Nova ordem 

•    Faça um levantamento financeiro, reduza custos, renegocie suas dívidas, negocie com seus clientes, a fim de garantir receber. Inove!

•    Antes de obter crédito, mesmo para colaboradores, manter salários e empregos, coloque   na ponta do lápis o que vai custar e o impacto disso.

•    Invista no controle financeiro de fluxo de caixa e, mesmo que o cliente não esteja inclinado ao consumo, busque gerar fluxo de renda , para isso, ofereça vantagens como descontos, vouchers para usar em um outro momento.

Fonte: jornal correio.

Redação