Esporte

Bahia aposta no mercado digital e mira até transmissões de jogos

Em entrevista ao CORREIO, presidente Guilherme Bellintani revela detalhes da nova plataforma de streaming do clube

Tricolor projeta exbir mais dos bastidores do clube em conteúdos exclusivos para os sócios
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A pandemia do novo coronavírus tem causado consequências sérias aos cofres do Bahia – e de praticamente todos os clubes no mundo. Com as competições paralisadas, o tricolor viu as suas receitas caírem de maneira drástica. Só entre março e abril, a diferença de dinheiro que não entrou no clube foi de quase R$ 10 milhões. A inadimplência entre os sócios aumentou e no pior dos cenários a diretoria projeta prejuízo na ordem de R$ 60 milhões.

Mas em meio à crise, o Bahia tem apostado na criatividade para superar o momento e se manter forte quando a pandemia passar. Enquanto toma medidas duras, como o fim do time sub-23, a redução de 25% dos salários dos jogadores e alguns funcionários, e a repactuação de dívidas, o tricolor também aponta para um caminho que pode render muitos frutos: o mercado digital.

“Digo sempre nas reuniões que o que a gente está vendo é um painel de controle com vários botões que precisam ser apertados ao longo dessa crise. Não existe um único botão de milagre que você vai apertar e resolver tudo, mas não tenho dúvida que a digitalização, o investimento em tecnologia e inovação vieram para ficar, estão acentuadas nesse momento de pandemia e é um dos caminhos de monetização do clube”, analisa Guilherme Bellintani, presidente do Bahia, durante entrevista ao CORREIO.

O Esquadrão tem olhado com carinho para um setor que consome muito futebol, mas ainda é pouco explorado pelos clubes. E a proximidade com uma parcela da torcida que não sai da frente da tela, seja celular, tablet ou computador, vai ficar ainda maior nos próximos dias. O clube planeja lançar ainda em junho o ‘Sócio Digital’, plataforma de streaming que promete apresentar conteúdo diário e se aprofundar nos bastidores da equipe.

“Ele (Sócio Digital) é uma evolução significativa do nosso atual aplicativo. Ele muda de nome, ganha uma linguagem maior em vídeos. Vamos fazer um produto que oferece mais de 100 horas de vídeos por mês para os sócios, sendo que mais da metade desses vídeos vão ser transmissões ao vivo e que depois ficará disponível para ele acessar. É uma grande plataforma de streaming e de relacionamento com o sócio e vai fazer com que o torcedor se aproxime mais do clube”, explica Bellintani.
“Vamos desde a evolução de produtos que já existem, como os vídeos de bastidores, o Programa do Esquadrão, até a criação de novos produtos como a transmissão de treinos, de jogos da base, de várias etapas dos bastidores dos jogos, tudo isso ao vivo e permitindo muita interatividade com o torcedor”, continua.

Para Bellintani, a exploração desse mercado representa o início da ruptura do atual modelo de contrato entre clubes e as estruturas tradicionais de comunicação. A prova disso é que o Bahia planeja já em 2021 transmitir através da sua plataforma própria os jogos da equipe profissional no Campeonato Baiano. Atualmente, o clube realiza transmissões de partidas do time feminino e categorias de base pelo YouTube.

“Nós temos a TV Bahêa (YouTube), mas a nossa percepção é de que estamos indo para um pós-tv. A nossa plataforma vai transmitir jogos, incluindo os oficiais do time principal, assim que for possível e a gente tiver esses direitos”, explica.

“Ele vai acessar o tempo todo, vai ver treino diário, apresentação dos atletas, jogos do feminino, bastidores, jantar, tudo com uma linguagem jornalística e de vídeo muito solta, não vamos fazer uma plataforma de produção muito quadrada e formal desse conteúdo”, garante o presidente tricolor.

No Brasil, o Athletico-PR foi o primeiro clube a apostar em uma plataforma própria para a transmissão de partidas. Através da Furacão Play, lançada em março, a equipe transmitiu ao vivo para os sócios o clássico contra o Coritiba, pelo Campeonato Paranaense. Antes da pandemia, o Athletico tinha acordo para exibir cerca de 30 jogos na temporada 2020, entre o estadual e o Brasileiro. O Bahia pensa em seguir a mesma linha.

“Para mim está muito claro que nós estamos preparando o clube para ter uma plataforma muito robusta e não diria uma projeção de transmissões para 2025, já que os contratos do Campeonato Brasileiro acabam em 2024, mas nós temos outras competições como a Copa do Nordeste e Campeonato Baiano. Temos ainda diversas plataformas que estamos conversando, como por exemplo a Dazn, para que o sócio digital não precise pagar pelos jogos do Bahia na Sul-Americana ou Libertadores nos próximos anos. A ideia é que essa plataforma do clube seja integradora de competições, já que o torcedor tem se mostrado muito incomodado de ter que pagar várias plataformas diferentes”, analisa Bellintani.

“O mercado digital pode ser uma liberdade dos clubes no aprisionamento do que são hoje os contratos televisivos. A gente tem a chance grande de digitalizar o futebol brasileiro e os direitos de transmissão. É um grande movimento de independência financeira”, acrescenta o presidente.
Monetização
A nova categoria de sócio do Bahia custará R$ 10, mas permite a busca de outras receitas além do pagamento de mensalidade. Bellitani explica, por exemplo, que vem negociando com uma empresa de apostas uma parceria. “O torcedor que apostar naquela empresa de apostas a partir do nosso aplicativo, o Bahia vai receber um percentual”.

O clube tem analisado ainda o mercado de e-Sports. “Estamos olhando com muito interesse, mas não priorizamos esse ano porque entendemos que esse projeto do sócio digital está à frente dos games, pois ele é mais monetizável no curto prazo. Vejo com bons olhos o movimento de games, não só para criar vínculo com a torcida, mas me chama a atenção a quantidade de dinheiro envolvido nesse mercado”, finaliza Bellintani.

Fonte: Jornal Correio.

Redação