‘A falta de compostura nos envergonha perante o mundo’, diz Barroso em resposta a ataques de Bolsonaro
Presidente do TSE fez discurso dois dias após chefe do Executivo voltar a atacar eleições e urnas eletrônicas durante manifestações.
BRASÍLIA — Dois dias após os novos ataques do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) às eleições e ao sistema das urnas eletrônicas durante as manifestações por ocasião do dia 7 de setembro, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, fez um discurso em defesa do sistema eleitoral e rebateu as afirmações “inverídicas” e “mentirosas” feitas pelo mandatário.
— Já começa a ficar cansativo no Brasil ter que repetidamente desmentir falsidades para que não sejamos dominados pela pós-verdade, pelos fatos alternativos, para que a repetição da mentira não crie a impressão de que ela se tornou verdade. É muito triste o ponto a que chegamos — , disse Barroso, que chamou as afirmações de Bolsonaro de mentirosas.
Ainda segundo o presidente do TSE, que é um dos principais alvos de ataques propalados por Bolsonaro, o presidente, ao falar sobre as eleições, faz uso de uma linguagem abusiva e da mentira que fere o trabalho de milhares de juízes e servidores da Justiça Eleitoral, “que servem ao Brasil com patriotismo”.
— Insulto não é argumento. Ofensa não é coragem. A incivilidade é uma derrota do espírito. A falta de compostura nos envergonha perante o mundo. A marca Brasil sofre neste momento, triste dizer isso, uma desvalorização global. Não é só o real que está desvalorizando. Somos vítima de chacota e de desprezo mundial. Um desprestígio maior do que a inflação, do que o desemprego, do que a queda de renda, do que a alta do dólar, do que a queda da bolsa, do que desmatamento da Amazônia, do número de mortos pela pandemia, do que a fuga de cérebros e de investimentos. Mas pior de tudo. A falta de compostura nos diminui perante nós mesmos. Não podemos permitir a distribuição das instituições para encobrir o fracasso econômico, social e moral que estamos vivendo —, comentou o presidente do TSE.
O ministro também rebateu ponto a ponto dos úlitmos ataques perpetrados pelo presidente da República contra as eleições e as urnas nos últimos tempos. Bolsonaro tem repetido seguidamente, sem provas, que foi eleito em 2018 em uma eleição fraudada e em julho, após dizer que iria apresentar a comprovação das falhas, realizou uma live onde mais uma vez não mostrou fatos e atacou o TSE.
— Após uma live que deverá figurar em qualquer futura antologia de eventos bizarros, foi intimado pelo TSE para cumprir o dever jurídico de apresentar as provas, se as tivesse. Não apresentou. Hoje em dia, salvo os fanáticos (que são cegos pelo radicalismo) e os mercenários (que são cegos pela monetização da mentira), todas as pessoas de bem sabem que não houve fraude e quem é o farsante nessa história —, disse Barroso.
Para Barroso, a democracia vive um momento delicado em diferentes partes do mundo, em um processo que tem sido batizado de recessão democrática.
— Com a benção de Deus, Deus de verdade do bem, do amor do respeito ao próximo, com a benção de Deus e a proteção das instituições, um presidente eleito democraticamente pelo voto popular tomará posse no dia primeiro de janeiro de dois mil e vinte três —, afirmou anda o presidente do TSE.
Durante as manifestações do dia 7 de setembro, em São Paulo, o presidente Jair Bolsonaro voltou a atacar as eleições e declarou que o atual sistema “não oferece qualquer segurança”, embora nenhuma fraude tenha sido descoberta nos últimos 25 anos, desde que a urna eletrônica passou a ser usada no Brasil:
— Acreditamos e queremos a democracia. A alma da democracia é o voto. Não podemos admitir um sistema eleitoral que não oferece qualquer segurança (…) para as eleições. Dizer também que não é uma pessoa do Tribunal Superior Eleitoral que vai nos dizer que esse processo é seguro e confiável. (…) Não podemos admitir um ministro (…) usar sua caneta … — afirmou o presidente, que completou com uma defesa do voto impresso:
— Queremos eleições limpas, democráticas, com voto auditável e contagem pública dos votos. Não podemos ter eleições que pairem dúvidas para os eleitores. Não posso participar de uma farsa como essa patrocinada ainda pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral.
Fonte: O Globo
Ministro Luís Roberto Barroso, presidente do TSE Foto: Divulgação/TSE