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Dez executivas negras dão mentoria a estudantes mulheres

Programa reúne diretoras a executivas C-Level para dar dicas de carreira.

Formada em serviço social e a segunda da família a ter acesso à faculdade, a executiva Camila Arruda buscou, desde o começo da carreira, se cercar de mentores ‘não oficiais’. “Tive profissionais que olharam para meu background humilde, sem bagagem intelectual riquíssima e que apostaram em mim, deram material e me tiraram da zona de conforto”. Dentro da Valeo, empresa francesa do setor automotivo, onde entrou como analista de RH em 2000, Camila foi galgando posições na área até assumir, aos 25 anos, uma posição no corporativo em uma das unidades de negócios na sede na França. À época, atendia 18 divisões em 11 países diferentes. Voltou ao Brasil em meados de 2010, assumiu uma posição executiva meses antes de descobrir que seria mãe, continuou crescendo e hoje é diretora de RH da Siemens Gamesa.

É um pouco dessa trajetória que a executiva quer compartilhar com as jovens que serão selecionadas para receber mentoria na 5ª edição do programa “Executivas do Amanhã”, realizado pela consultoria de seleção de executivos EXEC com a Hundle Brasil. “Quero despertar o interesse nessas jovens, mas mostrar que nós executivas somos também humanas, que enfrentamos dificuldades, que estamos sofrendo também no home office com as crianças em casa, mas que pessoas em uma função humilde podem trilhar uma carreira de sucesso”, diz Camila.

Camila Arruda, diretora de RH da Siemens Gamesa — Foto: Divulgação


Camila é uma das 10 mentoras do programa – que já contou com empresárias como Luiza Helena Trajano e Rachel Maia em edições anteriores. Neste ano, a EXEC selecionou dez executivas negras, bem-sucedidas em várias áreas e de posições diversas, para a mentoria. Além de Camila, o programa contará com Débora Ferraz (gerente global de talent acquisition da BRF), Katia Souza (business operations director LATAM da Aligntech), Elisangela Rodrigues Almeida (diretora executiva do Grupo In Press), Christiane Ferreira Neves (diretora comercial LATAM da Brenntag Group), Valentine Giraud (faculty/board member da Think School of Creative Leadership), Thereza Moreno (vice-presidente Financeira da Prudential do Brasil Seguros de Vida S/A), Lisiane Lemos (gerente de Novos Negócios do Google), Carla Moraes (superintendente de Engenharia de Software do Itaú) e Dilma Souza Campos (CEO da Outra Praia).

RH: Mentoria diversa olha para a diversidade Thereza Moreno, CFO da Prudential, começou a se desenvolver mais ativamente como mentora recentemente quando uma jovem funcionária de sua empresa pediu uma mentoria. A executiva conheceu a jovem no comitê de diversidade que ajudou a criar na Prudential e combinou, desde o primeiro momento, que os encontros “informais” seriam uma troca. “Eu queria saber mais sobre mídias sociais, como se vende na internet, as diferenças entre as várias redes. E ela queria saber sobre meus 18 anos na mesma empresa e como fui tomando as decisões que pautaram toda minha carreira e ascensão profissional até chegar a CFO”, diz. Ela também afirma que conversou sobre racismo com a funcionária. “Ela é asiática e, na pandemia, sofreu muito porque muita gente teve preconceito [de pensar erroneamente que os asiáticos eram culpados pela covid-19]. E eu mostrei a ela como lido com o racismo por ser negra e ter filho e filha negros”.
Formada em ciências atuárias e especializada em seguros, Thereza diz que foi muito importante ter uma mulher negra como chefe logo no início de carreira dentro da Superintendência de Seguros Privados e outras mulheres na gestão por onde passou, incluindo na Petros, onde foi trainee. Mas Thereza ainda define como sorte esses encontros – e diz que é preciso fomentar referências femininas para as jovens que estão ingressando no mercado. “A mentoria é importante para acelerar o equilíbrio de gênero”. Ela irá aplicar alguns aprendizados que têm obtido ao conversar com a jovem funcionária e que quer absorver da metodologia da EXEC no programa para desenhar um programa formal de mentoria na Prudential.

Cada executiva uma irá dar mentoria, a princípio em interações on-line, a uma estudante mulher – sendo dez candidatas selecionadas no total. Podem se inscrever até junho candidatas de todo país, que estejam cursando uma graduação reconhecida pelo MEC. Não há idade máxima limite.

“O processo seletivo passará por 3 fases, sendo a primeira uma análise do perfil, a segunda um processo interativo através da ferramenta de IA da Huddle em formato de game, e a terceira uma rodada de entrevistas com os sócios da EXEC”, afirma André Freire, sócio da EXEC. O game medirá competências como capacidade de resolução de problemas, tolerância a riscos, gestão de recursos, tomada de decisão, reação a mudanças e inovação. Nas entrevistas com os sócios, segundo Freire, as candidatas serão avaliadas com os mesmos critérios das entrevistas por competências que a EXEC realiza com executivos de C-Level. O que, segundo Freire, já é um aprendizado para todas.

Thereza Moreno, VP financeira da Prudential Seguros do Brasil Seguros de Vida — Foto: Divulgação

FONTE: Valor Econômico

Redação