A HISTÓRIA DO AMOR DA CATUENSE ANTÔNIA REGINA E O PADRE GILSON
O amor entre o Padre Gilson e Antônia que superou perseguições e obstáculos existentes pela tradição da igreja. Digno de um filme, parte do enredo se desenvolve em Catu
Antônia Regina Carvalho, conhecida como Tonha, nasceu e cresceu em Catu. Filha de Maria Bernadete Carvalho de Oliveira e João Cordeiro de Oliveira Sobrinho (In Memorian), tem três irmãos, professora de formação e católica, foi justamente em uma missa que encontrou seu verdadeiro amor.
Era década de 80 quando a professora conheceu Pe. Gilson quando celebrava uma missa na Paróquia da Penha, na Cidade Baixa, em Salvador.
Um tio de Antônia trouxe Pe.Gilson para celebrar uma missa de ação de graças em lembrança de Lena, também da catuense “ era o ano 1990, eu sentei no primeiro banco da Igreja de Nossa Senhora Santana e confesso, olhei muito para ele….(risos)”
Após a missa todos se dirigiram para casa de Guga, primo de Tonha, para um jantar “… assediei, ele ficou um pouco perturbado, vi que se assanhou mas se manteve respeitoso”.
Segundo Tonha o flerte foi momentâneo, pois estava saindo de um relacionamento recente e ainda sofria muito pela perda do amado. Um rapaz de nome Gerardo, que acreditava ser o homem dos seus sonhos, era mexicano e trabalhava na Schlumberger, em Catu.
Quatro meses após a morte do seu Pai, a catuense conta que Gerardo terminou o namoro, pediu demissão da empresa e na véspera de voltar para o México, foi às 22h, na sua casa e comunicou estar indo embora, por ter descoberto sua verdadeira vocação: ser padre. Parece mesmo que um amor acima das convenções estava .
Um ano depois o reencontro com Pe.Gilson acendeu a chama da paixão recolhida, novamente por ocasião da missa da tia Lena. Dessa vez o jantar foi promovido por sua mãe Dete, onde Gilson e a professora obtiveram mais proximidade.
O capelão viajou em seguida para São Paulo para um curso de comunicação, pois fazia um programa na rádio Excelsior. Já envolvido por Antônia Regina ao voltar, não perdeu tempo e ligou para Tonha.“ Fiquei confusa, meu Deus, o que será que vai ser? Fui para Salvador e fomos jantar. Lá fiquei sem graça, não sabia o que falar, depois fui descontraindo e quando dei por mim, já estávamos totalmente entregues e não conseguia acabar com a relação” pontua Tonha.
Obstáculos ao romance
Regina conta que foram muitos os obstáculos ao romance. Sua mãe Bernadete, mais conhecida como Dona Dete, católica praticante, foi radicalmente contra, a mãe de Pe. Gilson também. Muita maledicência, perseguições, discriminação e injúrias permearam o amor dos dois, mas este resistiu a tudo.
Com a marcação forte do Arcebispo na época, a saída foi mudar-se para Salvador, já que em cidade pequena tudo corre muito rápido. Era ano de 1995, Tonha era concursada do Colégio Estadual Inocêncio Góes, pediu transferência e contou com ajuda da diretora na época Joanil, que prontamente a liberou.
A ida para capital baiana foi em setembro e já em dezembro do mesmo ano, a gravidez veio.
Com pouco mais de dois meses em Salvador, um Capelão utilizou a desculpa de hospedar-se na casa de Gilson por uma semana, segundo a professora, seria para investigar a vida do padre, que já estava sob o olhar da cúpula episcopal e militar. “ Tive que retirar tudo meu de dentro de casa e sair, para não ser vista, éramos realmente uma família clandestina,” pontuou a catuense.
O nascimento da filha
Em 9 de agosto de 1996, Anna Raquel, filha do casal nasceu. Novamente o Capelão foi chamado pelo Cardeal Dom Lucas, e informou que o mesmo seria transferido para fora do país. Porém tudo foi ajustado e combinado com o Arcebispo militar, que decidiu pela ida do Pr. Gilson para Curitiba. E assim sucedeu: o Comando da Capelania da Aeronáutica em Curitiba (Indacta II) foi assumido por Gilson, em 1997.
“Moramos lá quatro anos e, por volta 1999 e 2000, Dom Lucas novamente o chamou e o transferiu, desta vez para Manaus. Três meses depois, ele veio nos buscar , eu e Ana Raquel. A adaptação foi bem difícil, mas aos poucos tudo foi se ajeitando e aproveitei para estudar.”
Perseguições em Manaus
“Um determinado dia chegando na minha garagem vi o Capelão chefe à paisana(sem farda) . Desviei e parei o carro em outro lugar. Sair com minha filha e este me abordou dizendo ser amigo de Gilson. Falei que visitava uma senhora e, ao invés de ir para o meu apartamento, fui para casa de uma vizinha que de nada sabia.”
Olhando de cima do apt º vi que além do capelão havia um soldado da aeronáutica escondido. Já me encontrava no meu apartamento, quando ele começou a buzinar. Liguei para pedir ajuda e falei com Cabo Menezes, secretário de Gilson, Pastor e nosso amigo; a quem nós tínhamos confiado a nossa causa.’
“ Este me tranquilizou dizendo: não se preocupe, eu vou tirar a senhora daí. Não demorou à chegar. Ao abrir a porta para o pastor, o Capelão e o soldado invadiram minha casa. Tamanha arbitrariedade me enlouqueceu e disse: ponha-se daqui para fora, o senhor sabe que isso é invasão de domicilio? Vou chamar a polícia! Usei todos os argumentos legais que pude…O Capelão se desculpou e foi para o quartel.”
O Padre Gilson foi notificado pelo Coronel Capelão chefe na época e afastado das atividades religiosas temporariamente, sendo colocado no serviço social. Também foi concedido um tempo para que desfizesse a união estável e se retratasse perante a igreja.
O processo
O processo de expulsão de Gilson, começou nessa época, após os acontecimentos em Manaus (Amazonas). O arcebispo queria colocá-lo para fora da aeronáutica, então ele foi julgado dentro do conselho da esfera militar.
“Por indicação de uma pessoa, reintegrado a aeronáutica depois de ter sido expulso, chegamos até o advogado Luis Felipe, este foi quem cuidou do processo e espantou o medo que nos rondava todos os dias: Gilson ficar com 40 anos de idade, desempregado e com uma filha para criar”.
Após dois anos do processo correndo, em 2001 o Tribunal Superior Militar (STM), constatou concubinato que é incompatível com o celibato, mas não havia falta militar.
O argumento usado pelo advogado foi que como ele era concursado, mais de 20 anos de serviço e embora a função fosse assistência religiosa, ele cumpria todas as obrigações de militar, quem deveria julgá-lo era o Direito Canônico.
O STM resolveu por aposentá-lo. A punição foi não ir a Tenente Coronel, pois estava por tornar-se Major. O militar quando se aposenta, sobe mais uma patente, isso lhe foi subtraído de acordo com sentença.
A professora conta que se casou escondido no ano de 1999, em Curitiba (PA), pelo rito católico ortodoxo. A filha foi batizada em uma Igreja Católica em Salvador, com as portas fechadas, por um colega do Capelão: “ele queria está como pai no batismo da filha, não como padre.”
E como ele não pediu dispensa da Igreja Católica, o Capelão reformado nunca foi afastado oficialmente do sacerdócio, nem pediu para sair, apenas se aposentou da aeronáutica, onde prestava assistência religiosa. De acordo com juramento feito na Igreja Católica ele nunca deixará de ser padre: “Tu és Sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedeque.”
Antônia Regina e Gilson Batista dos Santos, estão juntos há quase 26 anos, quatro só de namoro. Residem atualmente em um condomínio, na Orla de Salvador com sua filha Anna Raquel, 20 anos. Estão sempre em Catu visitando parentes e aproveitando a cidade, que um dia foi testemunha do começo de uma história de amor com final feliz.
O sempre Padre, como Gilson gosta de falar, destaca:“…Sinto-me tranquilo, em paz por ter assumido a responsabilidade dos meus atos. Tenho uma família linda, uma filha que é benção e uma esposa companheira, fiel e forte ao meu lado.”
Ana Raquel atualmente
Fotos: Arquivo Pessoal
A história de Antonia Regina e Gilson é uma história muito linda, em que apesar do preconceito, das regras, que a sociedade nos impõe, venceu o sentimento mais nobre, mais lindo que existe: o AMOR.
Eu tenho muitas saudades da Antônia! Ela estudou comigo em Manaus! Fizemos Direito juntas. Gostaria do cel de contato dela.